domingo, 30 de março de 2014

A Mesquita Vital

A Mesquita Vital


A casa daqueles personagens que apresentam uma memória escrita, histórica ou geográfica, está aniversariando. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) completou 112 anos de existência em 29 de maio de 2014. Foi idealizado por Vicente de Lemos nos longínquos 1902, o princípio do século passado. Não resta dúvida que no século XIX já pairavam e suspiravam pelos ares natalenses algumas ideias de como conservar e preservar memórias. Um legado a ser deixado ao futuro.

Legados ao futuro com histórias e memórias, compatíveis com um elefante. História e Estórias de Acari à Vila Flor, percorrendo as letras do alfabeto e as terras potiguares, com jardins, lagoas e serras, santos e santas; da ponta do Cotovelo a ponta do Calcanhar. Passando pelo olhar do elefante e de Santa Luzia em Mossoró; pelo faro paquiderme em Alexandria e suas patas no Seridó.

O Instituto está atualmente sob a presidência de Valério Mesquita. De Olímpio Vital a Mesquita, muitos já assumiram o comando da nau sempre capitaneada por figuras ilustres. E um número maior de personagens e intelectuais, já lustraram as cadeiras da casa. Figuras ilustres de reconhecimento nacional como Câmara Cascudo, e mais tantos outros que cederam seus nomes a logradouros públicos da cidade onde se localiza a sua sede: Natal/RN.

A Meca da cultura norte-rio-grandense, o lugar para onde os registros se encaminham pelo menos uma vez, ano a ano. A história, a geografia, e a cultura se direcionam e se posicionam de frente para uma mesquita, a Meca cultural potiguar. A geografia de hoje é a história amanhã; da sociologia ao espaço público; do comportamento humano à modificação do espaço físico terrestre. E neste espaço arquitetônico e arquivístico sempre esteve presente a geografia que se tornou história.

Uma Mesquita Vital que retrata, relata e documenta a vida, a arte e a cultura norte-rio-grandense: registra-se, arquiva-se e publica-se. Agora o lugar e o momento que todos devem refletir: ano de Copa do Mundo e ano de uma aproximação maior de Saturno com o nosso planeta. Todos devem parar; olhar e meditar sobre seus objetivos preservacionais. O mundo está mudando, Natal e o RN estão mudando. Mudam pela Copa, pelo momento mundial ou universal, e cabe agora decidir: continuar a preservar a memória ou deixar que se dilua no momento líquido que vivemos. Um momento onde tudo se mistura e mescla com facilidade, difunde-se e perde-se no correr das águas.

Fundado em 29/03/1902, o IHGRN tem por definição estatutária algumas atividades. Reunir documentos, catalogar, criar métodos, arquivar são algumas das finalidades do IHGRN. Vivemos hoje uma época de tecnologias computacionais e virtuais. E o IHGRN se encarrega agora de uma nova missão, mais árdua e mais complexa: preservar seu acervo com a tecnologia atual. Com instalações físicas compatíveis e com equipamentos tecnológicos compatíveis e ágeis para serem utilizados.

O IHGRN atravessou décadas, séculos e milênios. Entre multimídias e multiexpertises, entre filmes, fotos, fotografias e microfilmagens. De arquivos manuscritos a arquivos digitalizados. Do olhar da lente da câmera para o olhar do scanner; da caneta tinteiro a caneta escaneadora; da maquina de escrever ao teclado e mouse do computador; dos livros impressos aos e-books; das ‘caixas box’ aos ‘pen drives’ e cartões de memória. Do segundo milênio ao terceiro milênio.

Arquivos em nuvens, entre tecnologias da informação e comunicação (TICs). A missão maior do IHGRN é manter o preservarcionismo documental diante uma globalização que tende a mixar economias, histórias, culturas e ideias, com a tendência de uma dominação simbólica daquele povo que se destacar diante de outros povos.


Entre Natal e Parnamirim/RN ─  30/03/2014


Texto escrito para:

Jornal de HOJE – Natal/RN