segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A construção do conhecimento (10)

A construção do conhecimento (10)


O homem enquanto primitivo saia de sua caverna, ou de seu abrigo, em busca de alimentos. Em suas andanças observou o que outros animais colhiam e comiam. Provou, usou e abusou do conhecimento instintivo dos animais. Evitou envenenamentos comendo os mesmos frutos que pássaros comiam.

Em suas caminhadas estes homens primitivos caçavam e pescavam, catavam ou colhiam frutos, raízes e sementes. Observou que poucos animais estocavam alimentos. Apenas os que prevenidos, necessitavam se antecipar à fome e à seca, prevenir-se do frio e das entressafras, precisavam guardar reservas energéticas, glicídios e lipídios.

Todo conhecimento esta baseado na necessidade de comer. Digerir ideias e informações, alimentos e conhecimentos. Cada órgão está associado a um processo da digestão, de transformação e assimilação, de absorção e eliminação. Ideias e conhecimentos, todos controlados em etapas e processos pelo cérebro, que assimila e armazena as intangibilidades.

Antes os alimentos só eram consumidos in natura. O alimento retirado da planta vem com sua embalagem natural, as cascas. Agora os alimentos estão em conservas, conservados por novas embalagens em novas ideias e tecnologias. O conhecimento de cada um é construído entre gestões e digestões, com algumas congestões em excessos consumidos, ou deteriorados.

O homem atual é um ser considerado inteligente, considerado por si mesmo, e por seus próprios parâmetros. Mora agora em casas e apartamentos, e também sai de seu abrigo tal como o homem primitivo, sai em busca de alimentos e informação. Ao entrar em um mercado procura por alimentos frescos, modificados e industrializados. Naturais ou orgânicos, sem glúten, sem açúcar, ou sem aditivos químicos, indicados a esta ou aquela dieta, de restrições ou abusos.

Homens observaram que alguns animais guardam alimentos e outros não.  Viram nisto uma boa oportunidade para guardar, produzir e conservar, oferecer a quem pudesse pagar, ou estivesse impedido de arar e semear. Plantar e cultivar, colher e processar, embalar e distribuir.

O homem moderno entra em estabelecimentos, na busca de alimentos naturais e artificiais. Entra também em uma escola para obter conhecimentos enlatados, e customizados. Como não pode ou não teve como plantar, cultivar e colher, não há como sair em uma jornada errante, tem que buscar um conhecimento pronto para ser consumido, instantâneo, pronto para usar. Como na geometria, ou decora os teoremas e formulas básicas de triângulos, ou as deduz baseando-se em sombras projetadas por pirâmides, que mais parecem monumentos utópicos. Pessoas nascem e morrem sabendo que existiram, sem a certeza de que ainda existem, já que não tem oportunidade de ir ao Egito durante o tempo de sua existência.

Conhecimentos prontos para serem consumidos, são armazenados em HDs ambulantes, e utilizados nas empresas que usufruem e consomem o formando, o diplomado, como mão de obra especializada em conhecimentos cartesianos aprendidos. Uma escola oferece pelo menos duas opções de cardápios, em sala de aula com conhecimentos já preparados ou em uma biblioteca onde o consumidor ainda terá que construir suas interpretações. Com um cardápio melhorado oferece cursos de extensão, seminários e livrarias.

Ao final do período de aprendizado terá um comprovante, do seu conteúdo, sua composição, seus ingredientes e aditivos. O que foi utilizado, técnicas de preparo do estudante, em seu aprendizado, descritos em diplomas e históricos escolares, como um rotulo de embalagem ou bula de remédio, informando que assistiu às aulas e foi acompanhado por instrutores que aplicaram provas e testes durante o processo. E ao final o aluno teve um aprendizado considerado apto e com aproveitamento, compatível com as necessidades do mercado.  

Documentos com percentuais de aprendizagem, em uma escala de zero a dez, baseados em uma tabela considerada ideal e balanceada às indicações e objetivos do curso. Um documento carimbado, autorizado, protocolado, para quem quiser voar. Ou seja, foi um bom ouvinte e aprendeu tudo que lhe foi dito para aprender, decorar e responder.

Em caminhadas errantes o homem pode observar flores e frutos, caroços e sementes em estados diversos. Germinados, ou em germinação, deteriorados e por germinar. Assim pode avaliar e estimar uma sequencia de acontecimentos, organizando seu pensamento por um método, a natureza deu às chaves, os insights, a intuição para pensar de maneira organizada, sequencial.

Do mesmo modo foi observando que os dias seguiam após as noites e vice versa. Com o passar dos dias, e de tempos em tempos as condições climáticas também se repetiam. Épocas do frio e épocas do calor, épocas de chuvas e épocas de secas. Épocas que começavam com um frio ameno e culminavam com um frio intenso. Épocas que começavam com um calor agradável culminando com um calor abrasivo. Assim pode definir limites das estações com as estações de transição. Da mesma forma observou as fases da Lua, da fase crescente à fase minguante, do limite máximo ao limite mínimo. O dicionário possui uma enorme quantidade de palavras iniciando com a letra “C”, talvez a maior. Observaram outras modificações alteradas com os relevos e proximidades de mares e rios, lagos, lagoas e lagunas.

Associou e analisou as folhas e as flores das plantas onde colhia seus frutos. Observou e analisou as mudanças climáticas e astronômicas com o crescimento e desenvolvimento das plantas. Depois de incêndios em florestas observou que alguns animais sobreviventes se alimentavam daqueles consumidos pelo fogo. Aprendeu a levar a carne e outros alimentos ao calor, depois das próximas caçadas e coletas silvestres, quando já dominava o fogo.

O homem começou a articular seus pensamentos e suas ideias a partir do que observou a sua volta, começou a cientificar seus aprendizados e seus conhecimentos. Continua articulando ideias e pensamento, planifica conhecimentos e projeta resultados para o futuro.

Tal como a mulher que gera uma nova vida, o homem errante gerou ideias. Assimilou informações, construiu pensamentos, fez um processo de gestação, alimentou com novos conhecimentos e novas informações, até o momento de parir uma ideia. Começou um pensamento cientifico. Como um processo de gestação infinita vai construindo e organizando a gestão de seu próprio conhecimento.




Entre Natal e Parnamirim/RN ─  17/11/2013
Publicado em:
Jornal de HOJE
18/11/13
Natal/RN


Roberto Cardoso
(Maracajá)






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