A
construção do conhecimento (10)
O homem enquanto primitivo
saia de sua caverna, ou de seu abrigo, em busca de alimentos. Em suas andanças
observou o que outros animais colhiam e comiam. Provou, usou e abusou do
conhecimento instintivo dos animais. Evitou envenenamentos comendo os mesmos
frutos que pássaros comiam.
Em suas caminhadas estes
homens primitivos caçavam e pescavam, catavam ou colhiam frutos, raízes e
sementes. Observou que poucos animais estocavam alimentos. Apenas os que prevenidos,
necessitavam se antecipar à fome e à seca, prevenir-se do frio e das entressafras,
precisavam guardar reservas energéticas, glicídios e lipídios.
Todo conhecimento esta
baseado na necessidade de comer. Digerir ideias e informações, alimentos e conhecimentos.
Cada órgão está associado a um processo da digestão, de transformação e
assimilação, de absorção e eliminação. Ideias e conhecimentos, todos
controlados em etapas e processos pelo cérebro, que assimila e armazena as intangibilidades.
Antes os alimentos só eram
consumidos in natura. O alimento
retirado da planta vem com sua embalagem natural, as cascas. Agora os alimentos
estão em conservas, conservados por novas embalagens em novas ideias e tecnologias.
O conhecimento de cada um é construído entre gestões e digestões, com algumas
congestões em excessos consumidos, ou deteriorados.
O homem atual é um ser
considerado inteligente, considerado por si mesmo, e por seus próprios
parâmetros. Mora agora em casas e apartamentos, e também sai de seu abrigo tal
como o homem primitivo, sai em busca de alimentos e informação. Ao entrar em um
mercado procura por alimentos frescos, modificados e industrializados. Naturais
ou orgânicos, sem glúten, sem açúcar, ou sem aditivos químicos, indicados a
esta ou aquela dieta, de restrições ou abusos.
Homens observaram que alguns
animais guardam alimentos e outros não. Viram nisto uma boa oportunidade para guardar,
produzir e conservar, oferecer a quem pudesse pagar, ou estivesse impedido de arar
e semear. Plantar e cultivar, colher e processar, embalar e distribuir.
O homem moderno entra em
estabelecimentos, na busca de alimentos naturais e artificiais. Entra também em
uma escola para obter conhecimentos enlatados, e customizados. Como não pode ou
não teve como plantar, cultivar e colher, não há como sair em uma jornada
errante, tem que buscar um conhecimento pronto para ser consumido, instantâneo,
pronto para usar. Como na geometria, ou decora os teoremas e formulas básicas
de triângulos, ou as deduz baseando-se em sombras projetadas por pirâmides, que
mais parecem monumentos utópicos. Pessoas nascem e morrem sabendo que existiram,
sem a certeza de que ainda existem, já que não tem oportunidade de ir ao Egito
durante o tempo de sua existência.
Conhecimentos prontos para
serem consumidos, são armazenados em HDs ambulantes, e utilizados nas empresas
que usufruem e consomem o formando, o diplomado, como mão de obra especializada
em conhecimentos cartesianos aprendidos. Uma escola oferece pelo menos duas
opções de cardápios, em sala de aula com conhecimentos já preparados ou em uma
biblioteca onde o consumidor ainda terá que construir suas interpretações. Com
um cardápio melhorado oferece cursos de extensão, seminários e livrarias.
Ao final do período de aprendizado
terá um comprovante, do seu conteúdo, sua composição, seus ingredientes e
aditivos. O que foi utilizado, técnicas de preparo do estudante, em seu
aprendizado, descritos em diplomas e históricos escolares, como um rotulo de
embalagem ou bula de remédio, informando que assistiu às aulas e foi
acompanhado por instrutores que aplicaram provas e testes durante o processo. E
ao final o aluno teve um aprendizado considerado apto e com aproveitamento,
compatível com as necessidades do mercado.
Documentos com percentuais
de aprendizagem, em uma escala de zero a dez, baseados em uma tabela
considerada ideal e balanceada às indicações e objetivos do curso. Um documento
carimbado, autorizado, protocolado, para quem quiser voar. Ou seja, foi um bom
ouvinte e aprendeu tudo que lhe foi dito para aprender, decorar e responder.
Em caminhadas errantes o
homem pode observar flores e frutos, caroços e sementes em estados diversos.
Germinados, ou em germinação, deteriorados e por germinar. Assim pode avaliar e
estimar uma sequencia de acontecimentos, organizando seu pensamento por um
método, a natureza deu às chaves, os insights,
a intuição para pensar de maneira organizada, sequencial.
Do mesmo modo foi observando
que os dias seguiam após as noites e vice versa. Com o passar dos dias, e de
tempos em tempos as condições climáticas também se repetiam. Épocas do frio e épocas
do calor, épocas de chuvas e épocas de secas. Épocas que começavam com um frio
ameno e culminavam com um frio intenso. Épocas que começavam com um calor
agradável culminando com um calor abrasivo. Assim pode definir limites das
estações com as estações de transição. Da mesma forma observou as fases da Lua,
da fase crescente à fase minguante, do limite máximo ao limite mínimo. O
dicionário possui uma enorme quantidade de palavras iniciando com a letra “C”,
talvez a maior. Observaram outras modificações alteradas com os relevos e
proximidades de mares e rios, lagos, lagoas e lagunas.
Associou e analisou as folhas
e as flores das plantas onde colhia seus frutos. Observou e analisou as
mudanças climáticas e astronômicas com o crescimento e desenvolvimento das
plantas. Depois de incêndios em florestas observou que alguns animais
sobreviventes se alimentavam daqueles consumidos pelo fogo. Aprendeu a levar a
carne e outros alimentos ao calor, depois das próximas caçadas e coletas
silvestres, quando já dominava o fogo.
O homem começou a articular
seus pensamentos e suas ideias a partir do que observou a sua volta, começou a cientificar
seus aprendizados e seus conhecimentos. Continua articulando ideias e
pensamento, planifica conhecimentos e projeta resultados para o futuro.
Tal como a mulher que gera
uma nova vida, o homem errante gerou ideias. Assimilou informações, construiu
pensamentos, fez um processo de gestação, alimentou com novos conhecimentos e
novas informações, até o momento de parir uma ideia. Começou um pensamento
cientifico. Como um processo de gestação infinita vai construindo e organizando
a gestão de seu próprio conhecimento.
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Entre Natal e Parnamirim/RN ─ 17/11/2013
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Publicado em:
Jornal de HOJE
18/11/13
Natal/RN
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Roberto
Cardoso
(Maracajá)
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