quarta-feira, 17 de junho de 2015

Heranças e lembranças da corte


 
 
Heranças e lembranças da corte
Heranças e lembranças da corte, um case analisado a partir da Cidade de/do Natal/RN. Alguns utilizam “de”, outros utilizam “do”, e já começa uma indecisão, uma falta de vocação. Natal já foi ocupada por uma diversidade de povos com culturas diferentes e diferenciadas, o que não facilitou a criação de uma identidade, devido a pluralidade de interferências e participações. Aqui uma microanálise para o entendimento de um macro analise regional e nacional. O RN é uma terra de rosados e numerados.

Presenças e ausências históricas, ficaram registradas até hoje nas margens do Rio Potengi. Do forte na divisa com o mar, à ponte velha, do Passo da Pátria à Praia da Redinha. Natal na esquina de um continente, uma esquina de um grande rio com o mar. A repetição de lugares com aguas calmas e protegidas, procurados pelos antigos navegadores, que se estabeleceram em rios grandes, no Norte (RN) e no Sul (RS). Ficando um intermediário (RJ).

Natal/RN antes de ser considerada um povoado, uma vila, ou uma cidade, era ocupada por índios. Assim nos conta a história, dos que se denominaram descobridores, deixando relatos escritos em papeis timbrados, reconhecidos e autorizados pelas suas cortes, com o alvará da Igreja de Roma. Como navegadores e descobridores, descreveram os fatos pelos seus pontos de vista. Como vencedores de batalhas, ocupações e invasões, deixaram uma história a partir de seus pontos de vistas, ignorando a versão ou as suplicas dos perdedores. Como perdedores em algumas batalhas e conflitos, tornaram-se mártires e vítimas.

Depois que chegaram os portugueses com suas comitivas religiosas e governantes, para instalar edificações e estratégias, colonizadoras, habitacionais, religiosas e bélicas; com regras e normas políticas, bélicas e religiosas, outros povos chegaram para disputar e ocupar o território, explorar vegetais e minerais. Mas precisavam de mão de obra, e quem os guiasse na terra cheia de matas e mistérios. No sec. XV começa a surgir o modelo capitalista, onde o maior objetivo é obter o lucro. E a estratégia de mão de obra barata é subestimar e diminuir a importância e a intelectualidade, de povos e raças. Os que não trabalhavam pelo argumento, foram direcionados a um confinamento.

E os índios, os povos nativos foram obrigados a tomar partidos, para defender suas vidas e suas terras, e escolher um lado, tiveram que escolher entre os colonizadores e os invasores. Entre os que se mostravam amigos ou inimigos. Disputas entre povos europeus criaram desarticulações e divisões entre os índios, os donos da terra. Donos sem títulos de propriedades registrados, com tribos diversas e espalhadas, mas interagidos e participantes de um meio ambiente, um elo da cadeia arqueológica e biológica, fazendo parte do bioma. O índio, o ser humano, os seres viventes, como parte integrante da terra. De bom grado o índio recebeu aqueles chegantes cheios de roupas e costumes diferentes. O bem receber e acolher, ainda fazem parte da cultura e comportamento do povo brasileiro.

Na guerra cultural prevaleceu hábitos e costumes do povo autodenominado civilizado, que já possuía uma fala, uma escrita e onde escrever. Com papeis timbrados e envelopes lacrados, podiam transferir ideias e informações para locais distantes. Com a carta de Pero Vaz de Caminha, criaram uma certidão de nascimento do Mundo Novo perante o Velho Mundo. Estabeleceram seus marcos de posse ao desembarcar, com discursos e rezas.

No século passado, em nome da guerra e da paz mundial, um acordo foi assinado, e Natal recebeu o título ilustrativo de Trampolim da Vitória. Ficou uma cidade importante com títulos de mestrado e doutorado, um título recebido pelo empenho de uma causa, a guerra. Fez mestrado na Primeira Guerra, sendo escala de correio aéreo postal; e doutorado na Segunda Guerra. Serviu de trampolim, serviu de ombros de Newton, para que outros pudessem subir e enxergar mais longe. Agora quer fazer um pós-doc em transporte internacional, com portos e aeroportos, cargas e passageiros, participar da logística intercontinental. Títulos honorários e visionários. Precisa arcar com valores, custos e tarifas: CIF e C&F. Renunciar arrecadações para beneficiar o QAV, que queima recursos e oxigênio, das altas camadas atmosféricas. Novos exploradores precisam de um local para chegar e desembarcar, têm algo novo para explorar: água e pré-sal. Precisam de viagens que proporcionem uma menor distância. Os ventos já não servem às caravelas, movimentam os moinhos em terra.

Todos os níveis legislativos e administrativos querem dar palpites e pitacos. Dos vereadores aos senadores, do prefeito ao ministro. Como urubus, aproveitam as correntes quentes para chegar mais alto, na tentativa de disputar um espaço, com as águias que já avistaram tudo de longe, e aguardam uma pista livre para pousar. Depois da Segunda Guerra, restou um ninho de águias em Parnamirim Feeld. Satélites cuidaram do ninho.

 

Rei Henrique em Natal.

O rei Henrique esteve em Natal para apresentar problemas e soluções. Chegou com tudo pronto. Criou seus problemas e apresentou suas próprias soluções para serem aplaudidas e aclamadas. Comportou-se e fez discurso como os componentes de assembleias e câmaras, senados e senadinhos.. Mostrou-se disposto a viajar o mundo em busca de soluções para Natal e RN. Não entende que se os problemas estão aqui, as soluções também devem estar aqui. Ideias e soluções foram apresentadas, pela plateia, para serem apreciadas e evoluídas. Se o poder e a cultura emana do povo, as soluções também emanam do povo, e devem ser escutadas e analisadas. Uma casa de senhores excelentíssimos e ilustríssimos deve apresentar ideias e soluções excelentíssimas e ilustríssimas.

(R.C. in FB)

Assembleias, câmaras e senados, e mais outras casas denominadas como sendo do povo, casas augustas como dizem seus ocupantes. Estas guardam lembranças das cortes dos reis e rainhas, príncipes e princesas. Com uma taça de água em substituição às taças de vinho, servidas por um Lord impecável. A água contida em uma taça, utensilio simbólico da riqueza e da nobreza, o utensilio do simbolismo pascal, contendo o líquido de onde surge a vida. A água contida na taça como uma mensagem oculta e simbólica, respaldada pelo argumento cientifico de amenizar as cordas vocais, dos que falam muito e dos que não falam, mas precisam molhar a garganta, para não engolir tudo à seco.

Augustos têm suas falas protegidas pelas condições conquistada por sufrágios universais. E uma plateia presente para aplaudir e aclamar, seus discursos inflamados de amores e poderes pátrios, e regionais. A plateia apenas ouve, e por vezes por trás de um vidro, a divisa invisível e simbólica entre as partes, da corte e da plebe. Não há condições de manifestação. Caso contrário, podem ser convidados a se retirar. Ameaças verbais aos nobres ilustríssimos e excelentíssimos serão contidas por vigilantes atentos. Diante de microfones lamentam suas noites perdidas, e seus feriados não aproveitados, em prol de leis que protegem seus bolsos, seus cargos e salários. Discutem suas criações, que antes já estavam criadas. Seguem seus rituais federais, estaduais e municipais.

Por vezes proferem falas em discursos internos, assembleias importantes e renomadas, sem ao menos a presença de todos seus colegas de pasta, para ouvir e aplaudir. Enquanto se vive do lado de fora um pais de cotas, dentro das assembleias discute-se pautas de costas, para a mesa diretora dos trabalhos, com um presidente zapeando e disfarçando suas comunicações com o meio exterior. Não se sabe se dá ordens para a empregada, sobre o que deseja quer comer no jantar, ou se pede a benção e orientação de seus financiadores.

Em assembleias públicas, os parlamentares têm seus lugares reservados e assegurados. Com cadeiras diferentes, com encostos maiores ou menores, estas destacam seus poderes e lugares. Sentados em cadeiras confortáveis com direito a agua fresca e cafezinho, e algumas conversas ao pé do ouvido. Com um público cheio de expressões, de admirações de seus candidatos eleitos e escolhidos, por reis e leis de poderes maiores.

Um público presente sem direito a serviço de cafezinho e agua gelada, deve ouvir tudo de garganta seca e boca calada. Os destaques têm seus poderes em orbitas federais, estaduais e municipais. E como elétrons circulantes em orbitas menores procuram oportunidades de mudarem para orbitas mais elevadas. Com orbitas que possam determinar mais poderes adquiridos e possibilidades de sublimações e evaporações das ruas e das calçadas. No planalto central já pensam em um shopping, querem investir na área comercial. Em uma sociedade liquida que vivemos, são líquidos imiscíveis, não se misturam com o povo. Ficam como azeite sobre a água, azeites nobres e importados de safras escolhidas, com olivas colhidas em noite de luar, senhores de safra limitada e reservada.

E os comportamentos dos ilustríssimos e excelentíssimos, os herdeiros de coroas imaginarias deixadas por portugueses, holandeses e franceses. Acreditam ser donos de todos os mares como pensavam os ingleses. Comportamentos das cortes são refletidos em suas audiências públicas. Com reflexos maiores na cidade. Não produzem resultados excelentíssimos e ilustríssimos. Muitos não lustraram bancos escolares, e agora tentam lustrar poltronas protocolares. Não praticam uma gestão da qualidade, não praticam um PDCA. Com a pose de Pilatos aprovam leis e lavam as mãos. Não participam de um conhecimento contido nas ruas. O espaço público, aberto ou fechado, também tem uma linguagem comunicacional (Komunokologia). O que não está nas lousas e nas carteiras escolares, deverá estar contido em ruas e calçadas.

Não cabe a comparação que títulos e diplomas possam ou devam conferir saberes e conhecimentos. Mas viveres e afazeres, vivencias e convivências conferem conhecimentos. Os alunos estão cada vez mais distantes de universidades e faculdades. As convivências universitárias estão afastadas da educação. Agora a educação é à distância (EaD). Tal como o legisladores e administradores públicos, sempre a distância. Inalcançáveis, bloqueados por protocolos e recepções, recepcionistas, secretários e secretarias. Eternamente agendados e ocupados. Reuniões e encontros emergenciais, privatizam suas agendas e mandatos para fugir dos gabinetes. Com ternos e gravatas ficam iguais.

Em audiências públicas enquanto uma minoria escolhida tem lugares de destaque diante da plateia, com serviço de cafezinho e agua fresca, ainda que estejam ali como figurantes de uma peça teatral encenada. A plateia representante do povo assiste ao espetáculo disputando lugares entre as mínimas quantidades de cadeiras para suportar o povo sentado. Outros sem acesso ao teatro se conformam em ficar de pé, ficar nos corredores internos, corredores externos, ou talvez assistindo em uma TV em transmissão ao vivo de um canal televisivo ali instalado. O reflexo do povo nas ruas, em uma pequena sala enclausurada. De uma confusão e desconforto no plenário, é possível imaginar a cidade lá fora.  Com a possibilidade de uma fala da plateia, surge a dúvida se será anotada.

O mito da caverna de Platão. Em audiências públicas projetam imagens e sombras na tela, para imaginar e citar o que acontece lá fora. Imagens e sombras, podem ter diversas interpretações, para quem acredita em anjos e para quem acredita em assombrações. Do espaço micro avalia-se e estima-se o macro. Assim trabalha a ciência, e assim devem trabalhar os que defendem a ciência, com três Fs: foco, força e fé. Se os números falam e estão no gráfico futuro, eles vão acontecer! E se não acontecer, alguém tem que cobrar. Alguém tem que pagar por um plano mal estruturado, por falhas de desenvolvimento e planejamento.

A cidade de Natal/RN, como um ser vivo, formado de pessoas com características comportamentais, mostra ao mundo e aos turistas, tudo que supõe ser e deseja ser: mar, serra e sertão; tecnologia e inovação. A Barreira do Inferno, uma base de lançamento de foguetes e o maior cajueiro do mundo localizado em Natal. Enquanto ambos fazem parte da cidade vizinha à Natal, Parnamirim/RN. O passeio de bugre sobre dunas de areia fixas e móveis, e o passeio de camelo anunciado como em Natal, fica em outra cidade, na Genipabu de Extremoz. Praia de Pipa, uma praia com características da cidade de Búzios/RJ, com presença de turistas estrangeiros, gastronomia, e artistas, seguindo uma estratégia de Paraty/RJ com feiras artísticas e literárias, também não fica localizada em Natal, mas em Tibau do Sul/RN. São Miguel do Gostoso, e mais tantas outras cidades ou atrativos turísticos podem surgir anunciados como Natal. Natal a capital do RN, enxerga as cidades do RN, como seus distritos e sucursais. Destaca suas praias, mas não dizem o município. Falam do milagre, mas não falam do santo. Tal como os catequistas colonizadores, falavam da religião, convertiam, mas não ensinavam as orações.

Aa cidades são um conjunto de pessoas que desenvolvem um comportamento, passando a gerações e população futuras. Sem, no entanto, perceberem suas falhas, seus erros e seus acertos. Não é um atributo exclusivo de Natal. E se ao longo de sua história foi ocupada e dominada, compreende-se que perpetue seu comportamento. Tal como a Batalha na Avenida Roberto Freire, onde hoje portugueses e holandeses travam uma batalha educacional, repetindo ações e arengas passadas. Visões de um mundo holístico, sem descartar o heurístico.

Depois de tantas invasões e ocupações. Tantas presenças e culturas em Natal, a cidade não criou uma identidade, mas uma diversidade. E assim é possível ver e entender o comportamento da cidade de Natal, ocupada por povos diversos, comportando-se como se comportam os colonizadores: donos da Amazônia, donos do pré-sal, donos dos minerais. Donos de tudo que possa ser produzido e explorado. Hoje provocam batalhas econômicas e desenvolvimentistas internas, as disputas de PACs, portos e aeroportos, para receber os eternos descobridores e colonizadores. Em outras épocas já levaram inúmeros navios cheios de areia, hoje levam sal. (?).

Disputas de segurança e ambulância; disputas de espaços para viver e circular. A maioria dos nativos atuais já possuem seus pedaços de espelho, tal como receberam no descobrimento. — As lembrancinhas que os descobridores trouxeram, cacos de espelhos quebrados. — Mas agora tem que pagar. Agora são espelhos de grife com marcas importadas. Um espelho que é possível se observar, ver-se como os outros o vêm na internet, ou no zap-zap, com imagens e mensagens. Os que possuem um espelho com tecnologia, estão sempre aguardando os novos lançamentos que o povo de cima já está cansado de usar. E o povo de cima, no Hemisfério Norte, quando não quiser mais o brinquedo velho, lança pela janela (televisões e computadores) para o povo de baixo, no Hemisfério Sul, pegar. E ainda tem que pagar, para obter e usar, conectar e linkar.

 

RN, 17/06/15

Roberto Cardoso

Desenvolvedor de Komunikologia.
IHGRH – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Note.
INRG – Instituto Norte-rio-grandense de Genealogia.
Jornalista Científico (FAPERN/UFRN/CNPQ)
Reiki Master & Karuna Reiki Master
 

PDF 404

Texto disponível originalmente em:
http://www.publikador.com/economia/maracaja/2015/06/herancas-e-lembrancas-da-corte/

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