O
conhecimento que as universidades já não produzem
Por muito tempo bacharéis, mestres
e doutores, como professores e orientadores defenderam o conhecimento produzido
dentro das universidades. Afirmaram que o conhecimento era produzido dentro do
meio universitário, também chamado de acadêmico. Um conhecimento contido e
produzido por trás dos muros universitários, por membros de uma academia.
Um corpo docente entendeu
que a universidade produzia um conhecimento para a sociedade se beneficiar. Então
passaram a produzir um conhecimento, a ser implantado nas empresas e na
sociedade. A partir de informações colhidas nas empresas e na sociedade,
geraram conhecimentos para seus próprios fornecedores, de informações e
conhecimentos, que foram convencidos de não saber usar e processar seus próprios
dados, suas informações e seus conhecimentos.
Com os argumentos de
Descartes, tabularam dados e confeccionaram gráficos, a partir de dados coletados:
cronológicos, cronometrados e gerenciados, tentando prever um resultado futuro.
Chegaram a propor hipóteses, e percentuais de probabilidades. Com artigos
científicos descreveram suas analises e experiências, de modo contextualizado. Um
pari passo definido pela academia.
Constituíram suas bancas de
avaliações, com membros da própria academia. Com monografias, dissertações e
teses descreveram seus conhecimentos analisados e produzidos, direcionado a um
publico, com elementos selecionados por eles mesmos. Levaram suas criações e
produções bibliográficas para que suas bancas montadas avaliassem e aprovassem.
Criaram um conhecimento e um comportamento como um baú de sete chaves. Com um
toque de egoísmo criaram revistas cientificas que foram direcionadas a um grupo
de cientistas, do qual estes mesmos faziam parte e gerenciavam. Outorgaram para
si o circulo do conhecimento científico, uma aliança da confraria acadêmica.
Na busca de um publico cada
vez mais seleto e mais reduzido, foram agregando normas e critérios para a
publicação, em suas revistas especializadas. Um grupo ad hoc ficou encarregado de emitir aceites e não aceites aos novos
textos enviados, produzidos por uma elite, pelos pós-graduados. Com textos
publicados criaram pontuações, para atingir novos patamares. Com canudos e
certificados em punho estabeleceram duelos, diante uma plateia de espectadores
sentados em auditórios herméticos, dispostos a ouvir palestras e seminários sem
fazer interferências nos seus discursos. Tal como as antigas dissecações de
corpos em plateia de cadeiras dispostas em arena.
O tempo passou e os grupos
seletos, paramentados de canudo, beca e capelo, acostumaram-se, e acomodaram-se.
Placas eternizaram seus nomes em corredores e halls acadêmicos. Habituaram-se a
ser olhados e respeitados como produtores e detentores do conhecimento
científico e acadêmico. Um conhecimento inabalado, respeitado e reconhecido,
não só pela academia, mas principalmente pela sociedade, que gerava novos
interessados em participar do grupo de cientistas.
Afastaram-se do meio popular
e das ruas onde floresce a cultura, o conhecimento e as duvidas, que geram
respostas sem a tabulação em ordenadas e abscissas. Como não tinham mais com
quem disputar poderes, tornou-se necessário criar disputas internas com graus de
poderes reconhecidos por títulos e produção científica, reconhecida e
respaldada pelos órgãos de fomento e pesquisa, formados e capitaneados por uma
elite. A nata da sociedade acadêmica que não se mistura com o joio.
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Andar pelas ruas de um
campus universitário (Uma observação feita na UFRN), percebe-se que o
conhecimento que circula nas ruas da Cidade Universitária não é, ou não são os mesmos
que circulam, ou deveriam circular nas ruas da cidade (Uma observação feita a
partir de Natal/RN). Situações avaliadas a partir de um único campus
universitário e uma única cidade, uma observação, que não cria um caráter
cientifico, já que foi feita a partir de um pequeno universo de dados. Uma
análise em um microambiente, que não pode ser generalizada e universalizada,
evitando replicas e treplicas de opiniões acadêmicas.
Cientistas da academia por
acordo de cavalheiros, autodeterminaram o poder de poder, de definir e
delimitar o espaço e o tempo a ser estudado. Escolhem entre o micro e o macro.
Escolhem um ou diversos personagens. Fazem suas analises transversais e
interdisciplinares. Estabelecem regras e critérios, para que cheguem a
conclusões que provem suas ideias e teses.
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Hoje as universidades
possuem enormes estacionamentos para carros particulares e de uso individualizado,
quando a ordem atual da sociedade no uso de transportes é o coletivo. Carros
disputam os espaços de pedestres. Impedem a chamada acessibilidade,
estacionando em acessos de portadores de deficiência de locomoção e impedem a
passagem para quem ainda tem uma locomoção. A academia criou critérios de
respeito, de prioridade e de locomoção que não exercem. Não estabelece, e não reconhece
dentro de seu próprio território. O campus amplo e aberto para o céu é
hermético para aqueles que pisam na terra.
Ônibus circulares estacionam
sobre calçadas e sobre faixas de travessias de pedestres (Fato observado na
UFRN), a também chamada faixa de segurança, que não transmite segurança a quem
usa. Professores individualistas com ares holandeses, montados em pick-ups
enormes ocupam mais de uma vaga em estacionamentos. Carros em alta velocidade
circulam por ruas estreitas. Estacionam em curvas e esquinas, sobre rampas de
acesso ás calçadas. O convívio urbano social entre as espécies motorizadas e as
espécies não motorizadas não são compatíveis com o conhecimento social que
dizem produzir.
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Alguns poucos professores ainda
incumbidos de seu papel na sociedade vão à busca de manifestações culturais locais,
para mostrar as raízes de cantos, danças e instrumentos musicais, aproveitando
o dia da consciência negra, como pilar de uma construção cultural brasileira.
Enquanto o conhecimento não
é produzido, os alunos instalam os slackline
entre arvores, na tentativa de manter o equilíbrio na fita esticada e na linha
do conhecimento produzido. Outros jogam capoeira e dançam maracatu enquanto a
policia ou o feitor não vem.
A universidade anda carente
de reitores e diretores, de gestores e feitores, carente de fiscalização e
policiamento. Alunos dançam, cantam e tocam; se equilibram, até o dia que
possam ser declarados libertos dos bancos escolares e das grades curriculares,
com cadeiras obrigatórias. Com diplomas tal como uma carta de alforria, são
libertados podendo lançar seus capelos para o alto, como forma de expressar uma
liberdade alcançada, depois de anos cumprindo a pena de ser um ser sem luz. O aluno,
um a-lunes, um ser não iluminado.
O aluno que hoje tem nas
mãos um recurso da mais alta tecnologia, que pode dizer onde ele está; com quem
está, e onde precisa chegar. Uma biblioteca que cabe na palma da mão. Tal como
uma lâmpada de Aladim, ele trás seus pedidos, em sistema delivery, em poucos
minutos. Bastando esfregar ou tocar os dedos sobre a tela, e falar com o
atendente, a voz que vem do aparelho, o gênio da lâmpada de Aladim.
Texto
disponível em:
Entre Natal/RN e Parnamirim/RN ─ 20/11/2014
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